Se os dois países forem incapazes de resolver a sua guerra comercial, “o resultado pode ser ainda pior do que foi na Europa”. “A I Guerra Mundial começou por causa de uma crise relativamente pequena. E hoje as armas são mais poderosas”, advertiu. E reforçou: EUA e China veem tudo “em termos de conflito”, o que pode ser “perigoso para a humanidade”.

O antigo Secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger alertou para a possibilidade de um conflito armado entre os EUA e a China se os dois países forem incapazes de resolver a sua guerra comercial. O alerta foi deixado esta quarta-feira pelo Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos Presidentes Richard Nixon e Gerald Ford numa conferência em Pequim.
“Se se permitir que o conflito siga sem restrições, o resultado pode ser ainda pior do que foi na Europa. A Primeira Guerra Mundial começou por causa de uma crise relativamente pequena. E hoje as armas são mais poderosas”, alertou no Bloomberg New Economy Forum, que termina esta sexta-feira. “A China é um país economicamente grande. E nós também. Por isso, estamos destinados a pisar os calcanhares um do outro”, acrescentou.
Kissinger lembrou que, durante a Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética, era prioritário um plano para reduzir a capacidade nuclear de ambos os países. No entanto, como os conflitos entre os EUA e a China sempre foram “passivos”, não há um enquadramento para Washington lidar com Pequim como uma “potência militar”, advertiu. E reforçou: se os dois lados continuarem a ver “todos os assuntos do mundo em termos de conflito” um com o outro, isso poderá ser “perigoso para a humanidade”.
TENSÕES NAS RELAÇÕES COMERCIAIS E DIPLOMÁTICAS
Os EUA e a China estão envolvidos numa disputa comercial há um ano e meio sem que se vislumbre um acordo, apesar das várias rondas negociais realizadas. As tensões também estão a aumentar na frente diplomática: Pequim já condenou Washington devido às operações navais americanas no disputado Mar do Sul da China, às críticas dos EUA pela detenção de uigures e ao apoio do Congresso americano aos protestos pró-democracia em Hong Kong.
Questionado sobre se a instabilidade naquela região administrativa especial chinesa poderia ser o gatilho para uma nova Guerra Fria, Kissinger disse esperar que o assunto “altamente emocional” seja “resolvido por negociações”.
Em 1971, o então Secretário de Estado de Nixon voou secretamente para Pequim com o objetivo de iniciar conversações sobre uma nova relação entre os EUA e a China comunista. Kissinger continua a ser bem recebido pelas autoridades chinesas, tendo-se reunido com o Presidente Xi Jinping, em Pequim, em novembro do ano passado.
Texto de Hélder Gomes
Fonte: Expresso