CABINDA – O PARALELO DO PETRÓLEO

A VOZ DE CABINDA

 mbembubuala

Março 10, 2019

Quanta repressão vale o petróleo?
Quantas mortes valem o petróleo?
Quantas injustiças vale o petróleo?
Quanta indiferença vale o petróleo?

(*) Por Kuma Gomes


Monarquias feudais ferozes, ditaduras implacáveis, exércitos equipados, povos explorados, direitos espoliados, tudo envolvido pela ganância e sede de Poder, com “lobbys” mafiosos assentes em alta promiscuidade corruptiva.


Mata-se, morre-se, enriquece-se, explora-se, e a razão sem força perde a razão, no desprezo pelo Direito Internacional, com a Geoestratégia Planetária, a ignorar como sempre África e os seus Povos, na luta pelos direitos plasmados na Carta das Nações Unidas, da inalienável pertença da terra aos Povos autóctones.


É o caso de Cabinda, onde os descendentes dos Reinos de Ngoyo, Luango e Kakongo, sempre mais ligados ao Congo do que a Angola. Este equívoco vem do tempo colonial, que em consequência da arbitrariedade da Conferência de Berlim, se apossou de um território, que a exemplo de Macau, não lhe pertencia, tendo cedido, logo no Mapa Cor de Rosa, uma pequena faixa litoral ao Congo Léopoldville, entre o Rio Zaire e o território de Cabinda,
Dividido em quatro municípios, Cabinda, Cacongo (ex Landana), Buco-Zau e Belize, o território exportava madeira, café, óleo de palma. Em 2010 o petróleo de Cabinda representava 70% das exportações angolanas de crude, daí a ocupação do território, que no início da Luta Armada, a FNLA e o MPLA, defendiam a Autodeterminação do Enclave.


Se espanta o olhar para o lado e a surdez das Instâncias internacionais, é mais estranho o silêncio e a inacção do Vaticano, visto ter em Cabinda uma Diocese, ser o território africano mais católico, onde se vêm monumentos clericais de rara beleza, e uma devoção ímpar dos cidadãos.


O emissário do Grande Reino do Congo, Manicongo, viu consagrada a autonomia de Cabinda, na Conferência de Bruxelas, em 1876, promovida pelo Reio Léopold II que antecedeu a de Berlim, 1884/85.


Compreendo que nesta altura a Autodeterminação de Cabinda poderia provocar a balcanização de África, são precedentes que exigem diálogo e respeito mútuo, porque a via militar, concretizando-se, seria desastrosa. Mas sendo um parto difícil, é inevitável para o desenvolvimento da Região, nenhum Povo se desenvolve sem comandar o seu próprio destino.


As ditaduras da Nigéria, Angola, Guiné Equatorial, Venezuela, e as monarquias feudais da Arábia Saudita, Quatar, Kwait, Síria, Irão, subsistem com o negro veneno que jorra do chão, a troco de notas verdes envenenadas de interesses que sustentam o poderio de quem a troco de mordomias escandalosamente luxuosas, das elites sumptuosomente enriquecidas, com a miséria dos povos que governam. A solidariedade deixou de ter cor, mudou de nome, agora mede-se pelo cofre onde se acumula a desgraça.


O Presidente da República portuguesa chegou à Angola em dia de Carnaval, apesar da euforia que envolveu a sua recepção, não foi capaz de visitar o território de Cabinda, onde os Portugueses deixaram um Porto e um Aeroporto, e onde poderia apreciar a Sé Catedral, a igreja de Landana, as Pedras de Ielala, onde um dia Portugal assinou um Tratado que foi vilipendiado pela Corja traidora que ele faz reflorescer, com cumplicidade e propaganda, que minam a tradicional seriedade lusitana.


Os ventos da História estão a mudar, trazem o perfume de uma realidade que muita gente ainda não entendeu, e quando o cansaço e a resignação derem lugar à esperança, fará emergir um rolo compressor imparável, a que se junta a caducidade dos monstros, sem que antes se devorem uns aos outros, e a dignidade da cidadania dos humildes, de súbito, far-se-á ouvir e sentir, como um Tsunami avassalador, com a força da opressão e do grito preso no nó da garganta, ecoando o clamor da Liberdade.


Como ratos, reis e rainhas, saltarão borda fora, naufragarão nos petrodólares, e restituirão à terra, preso a eles, o ouro e diamantes com que desfilaram perante o sofrimento dos Povos.

Não terão Passaporte, rejeitados pelos oportunistas que os formataram, terão apenas o destino do Inferno, onde vão sentir as agruras em dobro, daquilo que fizeram enquanto se empanturravam com a desgraça alheia.

(*) Kuma Gomes, Jornalista e Historiador angolano.

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