NOTA DE RECUSA DO MIC À “OAD” SOBRE A REUNIÃO INTER-CABINDESA DO GANA

Mais um Movimento Independentistas de Cabinda “diz não” ao evento de Cultura e Paz em África, que terá lugar entre os dias 21 a 25 de Outubro do corrente ano no Gana. À organização que coordena a realização do certame “Organisation for African Development (OAD)”, convidou para participação, grande parte dos movimentos que reivindicam à soberania de territórios em África, incluindo os de Cabinda.

Depois de vários Movimentos Independentistas de Cabinda, terem declinado o convite. Leia mais sobre o assunto: https://avozdecabindambembubuala.com/2019/09/25/movimentos-independentistas-de-cabinda-no-interior-de-tchiowa-dizem-nao-a-reuniao-inter-cabindesa-do-gana/

Chegou a vez do Movimento Independentista de Cabinda – MIC que alegou vários motivos para à recusa, como se pode ler na nota enviada à nossa sede informativa que passaremos à difundir na íntegra:

MOVIMENTO INDEPENDENTISTA DE CABINDA

  • MIC –
    SECRETARIA PARA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO À
    ORGANIZAÇÃO PARA O
    DESENVOLVIMENTO
    AFRICANO – OAD
    – ACCRA –

N/Ref: 002/SIC/2019
ASSUNTO: Nota de Recusa

A Direcção Política do MIC, Movimento Independentista de Cabinda, tendo reunida nos dias 30 de Setembro, 10, 12 de Outubro do hodierno ano em Tchiowa, Cabinda, discutiu democrática e circunstanciadamente sobre o convite formulado pela OAD, Organização para o Desenvolvimento Africano, com vista a participar do encontro político sob a epígrafe: Assembleia Geral Inter-cabindesa para a Paz Sustentável e Desenvolvimento em Cabinda, decidiu recusar o esse, porquanto profundamente digere que:


a) A entidade organizadora, OAD não possuir uma inspiração ideológica emancipalista dos povos curvados ao jugo estrangeiro, sendo assim é uma Organização que se contextualiza num Estado-Nação independente, democrático e de Direito;
b) A OAD ter a olhos vistos pecado no que respeita aos critérios de selecção das Organizações político-cívicas cabindesas a fazerem parte do mesmo, uma vez que muitas delas são politicamente inactivas.


No ângulo do MIC, a paz em Cabinda só será efectiva quando o duradoiro e mortífero diferendo entre cabindas e o Estado angolano for diametralmente resolvido na sua raiz, porquanto profundamente se consabe que esse diferendo não é fratricida, ora, sim, internacional e de reconquista da soberania política dos cabindas, capturada, manu militari, no findar do ano 1974 e no limiar de 1975 pelo Governo angolano com incomensurável e poliforme apoio dos Marxistas-Leninistas cubanos, russos e os seus aliados portugueses adstritos não só ao MFA, Movimento das Forças Armadas, como a JSN, Junta de Salvação Nacional, duas instituições político-militares responsáveis pelo desbaratamento do regime fascista e colonialista do então Presidente da República Portuguesa, Américo Thomaz e do Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano.


O longo e mortífero conflito entre cabindas e os angolanos contextualiza-se paralelamente na perspectiva filosófico-ontológica, antropológica, histórica e cultural da vedetíssima obra do professor Samuel Hungtington, que nos apraz a citar ipsis verbis um dos seus postulados: «no mundo pós Guerra-Fria as diferenças mais importantes entre os povos não são ideológicas, políticas ou económicas. São culturais. Os povos e as nações estão a tentar responder à mais básica questão que os seres humanos enfrentam: quem somos nós? E respondem a esta pergunta da forma mais tradicional, tudo como referência o que mais conta para eles. As pessoas definem-se em termos de ascendência, espaço geográfico, religião, língua, história, valores, costumes e instituições.
A política igualmente é identificada com grupos culturais: tribos, grupos étnicos, comunidades religiosas, nações e, a um nível mais amplo, civilizações. As pessoas usam a política não só para promoverem os seus interesses, mas também para definirem a sua identidade».


Nessa órbita, a Direcção Política do MIC faz uma fiel interpretação do acima postulado por esse ínclito autor e depreende que a longa e sangrenta Resistência político-militar dos cabindas possuí igualmente divisa principal a recuperação da sua identidade histórico-cultural, antropológica asfixiada pela angolanização. Ademais, a título de reforçar a interpretação da inegável tese do Samuel Hungtington, o MIC põe em relevo o Adriano Moreira, antigo ministro do Ultramar português, que dizia, ipsis verbis, o seguinte: (Os cabindas não exigem mais e não se lhes pode pedir que exijam menos: “Optar por ser quem são”) e, pois, optar por ser quem somos pressupõe a priori que os Governos tanto de Portugal, EUA, França, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, como instituições transnacionais, União Africana, União Europeia e a ONU admitam sem reservas que os cabindas são distintos dos angolanos e não específicos desses, à vista disso empregarem todos os mecanismos de pressão desde os político-diplomáticos, aos financeiros sobre o Estado ocupante e colonizador angolano em Cabinda, com vista a esse retirar imparcialmente todo seu complexo aparelho político-administrativo e militar de opressão, vassalagem e de extermínio radicado em Cabinda, destacadamente as FAA- Forças Armadas Angolanas, para que os cabindas não só possam resgatar a sua identidade como também reconquistar a sua Soberania e conduzi-la incondicionalmente.


A Direção Politica do MIC, Movimento Independentista de Cabinda, aproveita esse ensejo para trazer à memória os cabindas, a OAD e o Ocidente que o colonialismo angolano é uma política ocupacionista e cleptocrática que é religiosa e impiedosamente aplicada em especial no Território físico cabindês e na sua inteireza aos seus autóctones pelo Governo angolano timonado pelo MPLA sob olhar desavergonhado e conivente do principal culpado da desgraça política dos cabindas, Portugal, porquanto consabe-se que quer a ocupação, anexação política de Cabinda à Angola, quer o seu colonialismo foram concebidos e efectivados não por lógicas razões históricas, culturais e jurídicas, ora, sim, por necessidades de sobrevivência político-económica do Estado angolano; nessa órbita, para o MIC tem pés e cabeça assinalar que a inexistência da Paz efectiva e Desenvolvimento em Cabinda é inegavelmente consequências concretas do Colonialismo angolano, e que à vista disso a discorrida guerra do petróleo que o MPLA oligárquico a todo trance faz em Cabinda tem senso de dizer-se a quatro ventos.


Outrossim, o MIC entende que o nado-morto acordo de paz assinado entre o Nosso Irmão António Bento Bembe e o Governo angolano, mesmo que pudesse ser feito por todas entidades político-militares, cívicas e religiosas que compunham o malogrado Nkoto Likanda a olhos vistos não deixaria de ser, por um lado uma gravosa punhalada à vontade soberanista dos nossos antepassados, que conscientemente assinaram os três honráveis Tratados de Protectorados (Chifuma, Chicamba e Simulambuco), ao povo cabindês na altura, às gerações actuais, vindouras, e, por outro não deixaria de ser uma imposição, rendição ao Governo angolano, estrangulamento da Resistência político-militar dos cabindeses face a Ocupação e Vassalagem angolanas; paralelamente o nado-morto e humilhante Acordo de Paz produziu formalmente um Estatuto Especial para Cabinda, ora, esse ficou apenas no papel e mesmo que se materializasse não faria nenhum senso de ponto de vista politológico-histórico e cultural, porquanto Cabinda não é um território específico de Angola, ora, sim distinto desse, muito embora haja encomendadas e reiteradas teses politológica, histórica e jurídica postuladas por alguns autores portugueses e angolanos não só intelectualmente corrompidos como moralmente responsáveis pela ocupação angolana em Cabinda, o MIC ressalta que essas teses só se revestem de fins ocupacionistas e colonialistas ao sabor dos interesses do Estado invasor-ocupante angolano.


A Direção Política do MIC aproveita esta circunstância politicamente oportuna para trazer à liça os murros internos e externos por onde a Nossa e Sagrada Luta de Libertação Nacional se esbarra:

a) Tribalismo;
b) Regionalismo;
c) Falta de clareza na definição ideológico-política das organizações que nela se envolvem;
d) Pessoalismo;
e) Corrupção das vozes activas;
f) Arrogância e oportunismo políticos;
g) Traição e falta de amor ao povo cabindês;
h) Desrespeito pela hierarquia das Organizações Político-Militares dinamicamente envolvidas na resistência anti-ocupação angolana;
i) Avareza;
j) Falta de uma Sociedade Civil que se contextualiza na luta suprareferida;
k) Cumplicidade de Portugal face a Ocupação angolana em Cabinda;
l) Abandono internacional.


Em última análise, a Direção Política do MIC declara que defende vigorosamente a União Política entre os cabindas e apela às Organizações Políticas e Cívicas envolvidas no processo de Libertação Nacional de Cabinda que enquanto esses murros acima citados não forem totalmente derrubados, a sonhada União Política não será possível e à vista disso Cabinda será sempre uma Torre de Babel Político jamais visto à face da terra.
‘’Subla causa, tollitur effectus: uma vez suprimida a causa, suprime-se o efeito’’.

Cabinda, Tchiowa, aos 14 de Outubro de 2019

O SECRETÁRIO PARA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Engº Sebastião Macaia Bungo

Fotos: MIC, edição VOC

Texto de Magaliza Zola 

© 2019 THE VOICE OF CABINDA – MBEMBU BUALA, PELA VERDADE E JUSTIÇA – CABINDA ACIMA DE TUDO E DE TODOS 

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