No dia em que Bornito de Sousa Diogo Baltazar, Vice Presidente da República de Angola discursava sobre o dia da (Paz e Reconciliação Nacional em Angola) no dia 04 de Abril em Cabinda foram detidos seis jovens activistas entre eles João Buanga Nsito, André Puati, Paulo Palucho e José Gimi, só para citar quando distribuíam cartazes com dizeres em “Cabinda não há Paz, queremos o diálogo e etc”, apelos ignorados pelas autoridades locais que decidiram recolher os jovens e encaminha-los ao comando municipal do Ngoma, segundo denunciou Alexandre Kuanga Nsito, presidente da ADCDH. Assista no link: https://youtu.be/xx4-MHo1ppo
A Mbembu Buala Press (A Voz de Cabinda), ouviu em exclusivo as reações de alguns actores políticos e activistas cívicos que deixaram duras criticas ao breve discurso de Bornito de Sousa nas terras do Maiombe.
Para o Movimento Independentista de Cabinda (MIC), representado por Alberto Puna Cibi, Secretário para formação político ideológica; considerou que a efeméride celebrou uma “PAZ assinada entre irmão angolanos” entre o MPLA e a UNITA.
Para Cibi no ponto de vista político, social e económico essa PAZ não trouxe nada de novo para o território de Cabinda, principalmente no que toca ao exercício das liberdades fundamentais, por isso considera ser “uma PAZ simplesmente Angolana que se limita somente do Zaire ao Cunene e não para Cabinda”.
Cibi não deixou também de criticar a acanhada referencia do Vice Presidente de Angola ao Memorando de Entendimento assinado em 2006 entre o governo angolano e a Flec Renovada de Bento Bembe que se tivera motivado segundo Bornito de Sousa devido as especificidade do território de Cabinda.
Mas que para o membro do MIC essas especificidades transformam Cabinda como parte não integrante de Angola à luz do Tratado de Simulambuco (assinado em 01 de Fevereiro de 1885), da Constituição Portuguesa de 1933 e diversas Resoluções das Nações Unidas. Cibi entende ainda que a resolução do Problema de Cabinda deve necessariamente passar pelo crivo do povo de Cabinda, através de um referendo independentemente do mecanismo a ser escolhido para o solucionar.
Com relação aos projectos de infra-estruturas em curso em Cabinda, para Cibi os mesmos realmente têm princípio mas nunca o fim, como o caso da obra do Campus Universitário de Caio que teve o lançamento da primeira pedra em 2012, mas que continua inacabada.
Ignorou de grande modo a justificação do governo do MPLA, segundo a qual que a conclusão de muitas obras, “ficaram condicionadas pela significativa disponibilização financeira por parte do Estado e, que a crise da pandemia da Covid-19 veio agravar mais ainda o quadro por limitar o fluxo de pessoas e mercadorias necessárias para as obras” justificação que classificou de política camaleónica do MPLA para com o território de Cabinda”, mas antes de concluir, Cibi deixou um aviso:
O “MIC entende que há apenas uma forma que essa insatisfação pode terminar que a de criar um ambiente de oportunidade de liberdade e de oferta de alternativas para que o povo de Cabinda possa ser o juiz final do seu próprio destino político” que entende ainda que a questão de Cabinda não é ignorada mas sim escondida, tendo em conta que o “povo de Cabinda está no seu nível máximo de saturação e dentro do tempo podem vir acontecer situações graves que podem de facto perturbar essa pseudo paz que o governo angolano diz que existe em Cabinda”. Declarações de Puna Cibi no link: https://youtu.be/4JZTP9j0i3Q
Já para o músico e activista, Daniel Vingo, considerou ser repetitivo o discurso do MPLA em Cabinda, “O discurso do Vice Presidente da República de Angola em Cabinda, eu acho que o discurso nunca muda, o discurso é sempre o mesmo e, é difícil ter que dar ouvido aquilo que já ouvimos desde do tempo do ex-presidente, José Eduardo dos Santos”. Vingo vai ainda mais longe ao dizer que é uma afronta ao povo de Cabinda, o MPLA comemorar 19 anos de Paz de Angola em Cabinda.
O discurso do Vice Presidente de Angola, não passou de mais um calmante ao povo de Cabinda, segundo ainda Daniel Vingo que também refutou a justificação da não conclusão das obras em curso em Cabinda por conta da crise financeira e da pandemia da Covid-19. Oiça Daniel Vingo aqui: https://youtu.be/QKrdFrEgS5U
AS REAÇÕES AS CELEBRAÇÕES DO DIA DA PAZ EM CABINDA, SE ESTENDERAM AS REDES SOCIAIS:
Para Jorge Lima Muanda, presidente do Movimento de Libertação de Cabinda-MLC, considera ser vergonhoso por parte do MPLA em celebrar essa data em Cabinda, “hoje em dia o MPLA vergonhosamente decide vir para Cabinda afim de exibir camisa branca no seu exterior sendo no interior carrega o sangue dos Cabindas”, Muanda acusou por outro lado o MPLA de “promover a guerra no território de Cabinda e nas Repúblicas vizinhas que fazem fronteira com *o Estado de Cabinda*…que não tem nenhuma ligação fronteiriça com a República de Angola” que ocupa militarmente prossegui Lima Muanda que para além do aviso, “A luta vai continuar até que se concretize a conquista das aspirações do povo Cabindês”, desafiou o Presidente Angolano, João Lourenço, “a tomar decisões pertinentes no que toca a resolução definitiva do problema de Cabinda”.
Para Adalberto Costa Júnior, Presidente da UNITA, considera que “Não se pode celebrar a Paz em Luanda enquanto se faz Guerra em Cabinda” para este é urgente dialogar e parar a guerra em Cabinda.
Na sua posição sobre o dia da Paz em Angola, o líder do Galo Negro não deixou de apontar as vias para uma possível solução da guerra em Cabinda, referindo que “A democracia tem formas de solucionar reivindicações regionais, históricas ou sociais, no quadro do Estado unitário de Angola. É preciso parar com a guerra e dialogar. Não se pode celebrar a Paz em Luanda enquanto se faz guerra em Cabinda, concluiu.
Relembrar ainda que Costa Júnior, anunciou recentemente que caso a UNITA vença as eleições em 2022, o Território de Cabinda terá o Estatuto de Região Autónoma de Angola. Ver para crer!
Parece que o território de Cabinda não foi escolhido por acaso para acolher o acto central do 04 de Abril/21, já que nos últimos dias não se fala de uma outra coisa se não a realização de uma conferência para se dar início ao diálogo entre o governo angolano e (ainda não se sabe com que grupo de Cabindas), as movimentações vão da diáspora até ao interior de Cabinda e, tendo em conta que muitos movimentos independentistas de Cabinda já se recusaram de ante mão participar no suposto certame para uma PAZ *definitiva* em Cabinda.
Os Cabindas não deveriam recusar dialogar com o governo angolano para a resolução do Problema de Cabinda, mas desde que essas negociações sejam feitas com o cumprimento das normas reconhecidas internacionalmente para a resolução de conflitos e não com ACORDOS de imposição como se assistiu em 2006.
E se na verdade o MPLA está disposto a resolver o Problema de Cabinda, os sinais desta disposição devem ser manifestadas na próxima revisão constitucional angolana já anunciada, com o reconhecimento das especificidades sobre Cabinda que o governo angolano reconheceu com à assinatura do memorando de entendimento, mas que recusou plasmar na Constituição Angolana de 2010, tornando o processo nulo e fracassado.
E esperemos que não nos digam para esquecermos os Tratados, como tentou José Eduardo dos Santos em Setembro de 1992, pois as suas promessas sobre as novas bases para as negociações sobre Cabinda, culminaram com assassinatos, corrupções, imposições e muito mais que não serviram para resolver o Problema de Cabinda, mas sim de alguns angolanos e Cabindas “espertos”.
Texto de Baveka Mayala
#Mbembubualapress
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