A PROBLEMÁTICA DAS ELEIÇÕES ANGOLANAS EM CABINDA

O debate sobre as eleições angolanas em Cabinda sempre dividiu, nos últimos anos, as opiniões dos políticos e dos ativistas sociais em Cabinda. Com o aproximar das eleições de 2022, as ofertas dos partidos políticos angolanos vão novamente saindo das gavetas e as águas começam uma vez mais agitar-se. Realmente, é ainda um desafio para nós a gestão do período eleitoral em Cabinda, um período curto e passageiro como a maré, porem, quando mal gerido, afeta profundamente as nossas relações como ativistas da mesma causa. A experiência das últimas três eleições realizadas em Angola aconselha-nos maior discernimento e ponderação, pois delas a sociedade civil local saiu mais fragilizada do ponto de vista da coesão interna e de respeitabilidade e influência das suas figuras emblemáticas.

Na verdade, muitos de nós, como defensores de causas justas, somos pelas eleições livres, justas e transparentes em Angola. É importante que o povo angolano consiga resgatar a sua soberania e possa colocar no poder líderes socialmente responsáveis, capazes de servir os interesses dos cidadãos, permitindo desta feita o desanuviar do clima político em Angola, com o nascimento duma nova era, que seja de diálogo, de justiça e paz social; de fraternidade e boa cooperação.

Todavia, como cabindas e defensores do direito à autodeterminação do povo de Cabinda, a consciência de muitos de nós nunca nos permitiu participar na putativa festa da democracia angolana, evitando deste modo trair a nossa consciência com o voto que legitima o poder do regime angolano em Cabinda. Contudo, respeitamos o posicionamento estratégico dos irmãos que defendem a necessidade de mobilização do voto de protesto contra o regime do MPLA em Cabinda, cuja estratégia, no nosso entender, só terá eficácia e relevância num processo eleitoral justo e transparente conduzido por um órgão verdadeiramente independente.

Não obstante o posicionamento de cada um sobre o referido processo, como ativistas da mesma causa e defensores das lídimas aspirações de Povo de Cabinda, solicitamos a todos maior discernimento e ponderação, aliás, só a pátina do tempo se encarregará de avaliar as nossas posições e julgar as decisões dos nossos actores políticos. Pedimos tolerância pois sabemos que partilhamos os mesmos sonhos ainda que trilhemos caminhos diferentes pelo que rogamos maior respeito pelas nossas diferenças. Pedimos tolerância porque as nossas escolhas podem não ser as melhores na visão de muita boa gente e vice-versa, mas temos todos, individual ou coletivamente, o direito de apresentar com humildade, sem insultos, arrogância e prepotência, as nossas ideias, as nossas propostas para um futuro melhor.

Finalmente, desejamos muito sinceramente que não venhamos repetir os erros do nosso passado recente, evitando deste modo crispações desnecessárias, com ataques pessoais, que possam comprometer futuras iniciativas de concertação intercabindesa.

António Paca Panzo

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