Por @mbembubuala
Fevereiro 02, 2019
Porquê eu luto?
Eu luto porque não estou livre, porque o meu povo também não está livre. Luto
por mim e pelo meu povo. E não meço as consequências desta luta, estou
preparado para tudo, até, se possível, para a minha morte. Porque pode ser que
o meu sangue é que vai completar o sacrifício necessário para que o meu povo
seja livre.
Luto porque amo a minha Terra, a minha Pátria, Pátria que me viu nascer e viu
nascer também os meus irmãos e concidadãos. Esta Pátria chora e quando olha
para trás, o quê vê? Qual o filho está disposto para lutar por ela? Poucos.
Como se canta na nossa língua, “minu kúba inkandi ku manima, náni wi yakulá
wó?”
Luto porque me revejo no sofrimento do meu povo. Se uma criança morre no
hospital por falta de assistência médica e medicamentosa, esta criança é meu
filho. Se um menino lhe é negado a educação, a saúde e o laser, este menino é
meu filho. Se uma mãe acorda de manhã e não sabe o que vai dar de comer aos
seus filhos, esta mãe é minha irmã. Se uma rapariga é violada e morta pelos
tropas do regime, essa rapariga é minha filha ou minha irmã. Se um pai vê o
filho ser torturado, preso ou morto pela polícia, só porque reclamou os seus
direitos, este pai é meu irmão. Se um guerrilheiro é morto na frente de batalha
em defesa da justa causa deste povo, este guerrilheiro é meu irmão. Enfim, me
revejo no sofrimento, na dor e na morte de cada um dos filhos desta terra.
Eu luto porque o amor que sinto por Cabinda, não é só pelo seu solo e pela sua
paisagem, mas também pelas gentes que nasceram e habitam neste território.
Posso ter tudo e sentir-me realizado, mesmo assim irei continuar a lutar
enquanto tiver um irmão a padecer e a morrer porque lhe é negado a vida e o
bem-estar pelo regime.
Luto porque a minha e nossa causa é justa. Não tenho medo dos canhões, dos
porretes, das prisões ou mesmo da morte. Aliás, o que me vale viver aprisionado
na minha própria terra? Se luto, morro, se não luto, também morro, então melhor
lutar e morrer honrado.
Eu luto, porque, por mais longa que seja a noite, a aurora acabará sempre por
chegar. Podem me chamar de aventureiro, de sei lá o quê, mas eu vou lutar,
porque tenho fé que a minha vitória há-de chegar. Como se diz na minha língua
“Kete kuna mabumba, celele wela kun’gamba inçamu” – mesmo depois de morto, o
celelé/traça há-de me dar o recado, de que o meu povo está livre, Cabinda
tornou-se independente.
Então agora já sabem o porquê da minha luta. Se tu, filho desta terra, não
podes lutar porque deve proteger o teu pão ou porque tem medo ou vergonha, o
amor que dizes ter por Cabinda é falso. Cabinda chora e tu fica indiferente à
este choro?
Você, meu irmão, que é polícia, investigador, procurador ou juiz que é obrigado
pelo regime a torturar ou julgar o teu irmão, faça-o pensando que a causa deste
irmão é sua também. Faça-o apenas em cumprimento das ordens superiores e não
com raiva e violência. Se não pode lutar, deixa os outros lutarem e
respeita-os. Se tomares uma atitude que possa prejudicar o teu irmão, isso
poderá, um dia, pesar-lhe na consciência. Por isso pense duas vezes antes de
torturar ou condenar o teu irmão.
Para aquele que, como eu, está disposto a lutar, para frente é o caminho, não
desista e a Pátria há-de lhe agradecer.
TUDO POR CABINDA E NADA SEM CABINDA
VIVA CABINDA INDEPENDENTE!
Texto de José António de Carvalho
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