
Nesta última semana do Estado de Emergência – que espero que seja mesmo a última – fiquei mal impressionado pelo modo como as forças de segurança e defesa estão a interpretar as medidas de contingência em Cabinda.
Em primeiro lugar, acho inúteis todas as barricadas colocadas ao longo das principais artérias da cidade e a interpelação sistemática dos automobilistas. O foco foi colocado nestes, enquanto os demais cidadãos circulam normalmente a pé sem grandes constrangimentos e muitos deles sem máscaras. Os mercados estão abarrotados e com a excepção das máscaras que já vão quebrando a resistência, não se cumprem as medidas do distanciamento. A medida da cidade morta a partir das 18:00 decidida pelo comandante geral da PN não me convence em termos de eficácia na luta contra a Covid-19.
Durante todo o dia as pessoas circulam livremente, mas depois das 18:00 temos uma espécie de recolher obrigatório que transformou a cidade em ilhas de cerca sanitária: quem está na baixa já não pode aceder ao Cabassango e vice-versa, por exemplo. Será que o vírus anda por aí a solta a partir das 18:00? Entendo que, para além de ser apenas uma demonstração de visibilidade das forças da ordem, não é este o caminho mais eficaz para a nossa prevenção. O problema da prevenção passa pela interiorização das medidas propostas pelas autoridades sanitárias a nível da população. Aqui a pertinência do trabalho de mobilização e informação tendo em conta o nível de iliteracia do nosso povo. Enquanto as forças de defesa e segurança estão nas barricadas nas estradas, no interior dos bairros a vida social segue tranquilamente.
De resto, quanto ao grau de prontidão para resposta adequada em caso de contaminação, depois do que constatei nas visitas feitas como Deputado, com muita tristeza devo confessar que Cabinda está completamente vulnerável por não estar equipada ainda nesse sentido. As enfermarias preparadas no Hospital Central são mais um lugar para os casos contaminados irem esperar pela morte do que para serem tratados e recuperados. Para além das camas não há mais nada em termos de equipamentos como os ventiladores que tão necessários são para acudir a esses casos. São já passados dois meses desde o primeiro decreto do Estado de Excepção e Cabinda tarda ainda a ter todos os meios de luta contra essa pandemia maldita.
As fronteiras com os países vizinhos tornam a nossa situação mais delicada. Dali a necessidade de massificar as testagens sobretudo para os indivíduos que estão a ser capturados na sequência de violação da fronteira. Não basta colocá-los num hotel em quarentena, medindo apenas a temperatura e depois submetê-los aos órgãos da justiça. Só devem ser despachados depois de testados e com os resultados devidamente conferidos.
Juntos podemos!
Cabinda 20.05.20
Texto de Raul Tati