A Mbembu Buala Press (A Voz de Cabinda), agradece profundamente a vossa disponibilidade para falar sobre o Problema de Cabinda, num momento tão delicado como este em que se regista um renascimento na Luta de Libertação do Território de Cabinda.
MBP-AVC: BREVE APRESENTAÇÃO! QUEM É OSVALDO MASSANGA?
OM: Os meus pais atribuíram-me o nome de Osvaldo Massanga, nascido em Khatabuanga -Mbuku Nzau, actualmente residente nos Estados Unidos da América (EUA) faz cerca de 3 anos mas com uma ligação umbilical inquebrantável à Terra-mãe.
MBP-AVC: TENDO EM CONTA AS ESPECIFICIDADES (HISTÓRICAS, POLÍTICAS, SÓCIO-CULTURAIS E GEOGRÁFICAS) DO TERRITÓRIO DE CABINDA, GOSTARÍAMOS QUE NOS ESCLARECESSE SE CONSIDERA CABINDA UM TERRITÓRIO OCUPADO POR ANGOLA?
OM: É factual e indesmentível que Cabinda foi, em 1975, ocupada militar e ilegalmente por Angola com apoio dos invasores Cubanos tendo no regime comunista português da altura o principal cúmplice. Infelizmente, as mais de 4 décadas de (des)governo do Partido dos marimbondos serviram apenas para instituir, chamemos-lhe assim, uma sistemática “lavagem cerebral” fazendo com que pessoas sobretudo jovens tomassem como verdade inquestionável e absoluta, tudo o que o regime quis que as pessoas soubessem. Hoje existe um despertar de consciência generalizada tanto entre angolanos mas sobretudo entre Cabindas, amiúde, os jovens vão se livrando da “cegueira” a que foram sujeitos e a verdade verdadeira, permita-me a redundância, vai aparecendo.
MBP-AVC: PODE SE CONSIDERAR À ANEXAÇÃO DO TERRITÓRIO DE CABINDA À ANGOLA, ATRAVÉS DOS ACORDOS DE ALVOR UMA VIOLAÇÃO AO TRATADO DE SIMULAMBUCO E POR QUÊ?
OM: “Alvor” não apenas violou o Tratado de Simulambuco como também o próprio direito internacional porquanto Portugal, durante a conferência de Berlim, puxou do tratado de SIMULAMBUCO para reclamar soberania sobre o território de Cabinda quando haviam outras potências coloniais que também ambicionavam ocupar Cabinda; considerando que a conferência reconheceu a soberania de Portugal sobre Cabinda por via do Tratado SIMULAMBUCO, temos de concluir que este mesmo documento tem validade jurídico-legal, assim sendo, o não cumprimento dos pressupostos plasmados no tratado, Portugal traiu a confiança dos Cabindas e faltou à sua própria palavra.
MBP-AVC: SE FORMOS À RESPEITAR AS FRONTEIRAS TRAÇADAS PELOS OCIDENTAIS NA CONFERÊNCIA DE BERLIM, O TERRITÓRIO DE CABINDA É OU NÃO PARTE INTEGRANTE DE ANGOLA?
OM: É preciso recordar que a questão da separação entre Cabinda e Angola é anterior a própria conferência de Berlim, porquanto o Tratado de Simulambuco foi celebrado antes da conferência; o mais interessante nisto tudo é ver que até bem perto da própria independência de Angola, Cabinda foi tratada por várias entidades internacionais como um território separado de Angola.
A título de exemplo, um renomado jornalista francês Philippe Decraene do jornal Le Monde escrevia, a 28 de Agosto de 1974, e passo a citar: “A ascensão da Guine-Bissau à independência, deverá acelerar a descolonização de Angola, Moçambique e, talvez a longo prazo leve ao enclave de Cabinda e do arquipélago de São Tome e Príncipe”. Portanto, as reivindicações independentistas dos cabindas encontram fundo quer do ponto de vista histórico, jurídico, geofísico e até mesmo cultural, a nossa ligação com Angola resume-se única e exclusivamente à língua oficial que partilhamos, nada mais do que isso.
MBP-AVC: SERÁ QUE É UM DOS DEFENDE QUE CABINDA DEVE SER RECONHECIDO COMO UM ESTADO INDEPENDENTE? PORQUÊ?
OM: Eu sou a cima de tudo, um acérrimo defensor dos princípios e valores democráticos, o que menos conta aqui é exatamente a opinião singular de um indivíduo; mas, respondendo à vossa pergunta, eu diria que não, Cabinda não é um estado e não deve ser considerado como tal pelo menos do ponto de vista doutrinal.
MBP-AVC: HOJE FALA-SE MUITO SOBRE O APELO AO DIÁLOGO VISANDO À RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE CABINDA E, VÁRIOS SÃO OS MECANISMOS APONTADOS. NESTA SENDA, ENTRE O ESTATUTO ESPECIAL, AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA TOTAL! QUAL SERIA O MECANISMO IDEAL PARA RESOLVER ESSE PROBLEMA DEFINITIVAMENTE E POR QUÊ?
OM: Seria possível encontrar por via do diálogo, uma solução pacifica para a questão de Cabinda, se houvesse vontade politica do governo do país ocupante, infelizmente, lidamos ao longo de 45 anos com um regime dictatorial e maléfico que nunca mostrou de forma séria e comprometida, vontade de resolver a questão, lidamos com um regime arrogante e que se julga invencível, daí eu pensar ser impossível haver uma solução para Cabinda que satisfaça os nossos legítimos anseios. Angola, define-se como um estado democrático e de direito, pelo menos é o que consta da sua carta magna embora a prática quotidiana revele exatamente o contrário.
Não havendo unanimidade entre cabindas sobre qual seria a melhor saída para o conflito, governos verdadeiramente democratas, dariam a palavra ao povo de Cabinda para, em de sua livre vontade e por via de uma consulta popular, decidir a melhor saída para o diferendo; a figura do “referendum” não tem respaldo na CRA, emende-se a mesma Constituição, assunto resolvido e todos saiam a ganhar, infelizmente, a arrogância deste regime fez com que os seus dirigente vivessem obcecados por manter os status quo, à eles basta-lhes dizer de Cabinda ao Cunene e a situação está resolvida; uma mentira repetida mil vezes nunca será verdade.
MBP-AVC: Ultimamente fala-se na urgência de se realizar uma reunião inter-cabindesa ou seja reunir a mesma mesa todos as organizações políticas e da sociedade civil de Cabinda, com objectivo de aproxima-las e juntos poderem decidir as modalidades para a resolução do Problema de Cabinda. No vosso entender quem tem a legitimidade para organizar, essa reunião? E na eventualidade de ser convidado por um dos promotores se faria presente?
OM: Legitimidade temos todos os cabindas, basta para tal haver condições e vontade para se convocar um conclave de tamanha envergadura e relevância; na verdade, num passado não muito distante, houve uma iniciativa do género em Acra no Ghana, em que se apelava a presença de todos os atores políticos e cívicos de Cabinda para concertação de ideias, lamentavelmente, ocorreu-me que muitos recusaram-se a participar dessa reunião, o que já de si, revela bem o lado negro que sempre manchou a história da nossa luta, os egos e planos individuais sempre vieram ao de cima, somos incapazes de colocar o interesse coletivo a cima das individualidades. Quanto a questão sobre a possibilidade de ser convidado a participar de uma eventual reunião inter-cabindesa, enquanto cabinda e mesmo não sendo político, teria todo o prazer e a honra de tomar parte se, na altura, as circunstâncias fossem favoráveis a minha participação.
MBP-AVC: QUAL É À AVALIAÇÃO QUE SE OFERECE FAZER SOBRE À ACTUAL SITUAÇÃO, POLÍTICA, SOCIOECONÓMICO E MILITAR NO TERRITÓRIO DE CABINDA?
OM: Estou fora de Cabinda faz quase 7 anos e fora de Angola há pouco mais de 3 anos mas, como deve calcular, o mundo tornou-se num espaço cada vez menor graças às novas tecnologias, vamos acompanhando tristes, desolados e à distância o agravar da situação social e económica do nosso povo e, em contra-ponto, quando falta quase tudo e mais alguma, os senhores estudiosos do regime fizeram um trabalho aturadíssimo como só eles sabem fazer e concluíram que Cabinda não precisava de mais nada para se desenvolver e acabar com a miséria das populações, apenas um brutal contingente militar e um poderosíssimo arsenal bélico, é tudo que faltava aos cabindas, de facto, os senhores da situação não nos deixaram ficar mal e fizeram questão que nada que seja militar nos falte, por isso, aplausos aos marimbondos é exatamente disso que Cabinda precisa para o tão almejado desenvolvimento, mais militares, mais tanques e canhões e bilhões de munições.
O regime não se cansa em afirmar que não há conflito em Cabinda, que reina a paz absoluta em toda a extensão do território cabindês, daí eu concluir facilmente que toda movimentação de homens e arsenal bélico em Cabinda visa apenas garantir o desenvolvimento da região.
MBP-AVC: QUAL É À AVALIAÇÃO QUE FAZ SOBRE O PRIMEIRO ANO DO CONSULADO DE MARCOS NHUNGA, A FRENTE DOS DESTINOS DE CABINDA?
OM: Como já me referi a cima, não estou no terreno e fica-me difícil analisar com propriedade a acção governativa do eng Nhunga em Cabinda, em todo caso, sendo ele do regime embora seja filho da terra, não tenho grandes motivos para me entusiasmar, vai ser sem dúvidas, mais do mesmo, estamos a falar do governo do Partido da situação. Entretanto, enquanto homem, pai, esposo, irmão ou tio, desejo-lhe tudo de bom, quando nas vestes governante marimbando diz-me zero.
MBP-AVC: Qual é analogia que faz sobre a percepção “do Governo angolano que entende que o problema de Cabinda é um problema social? ( OU SEJA PARA ESTE A RESOLUÇÃO PASSA PELA CONSTRUÇÃO DE VÁRIAS INFRAESTRUTURAS ” NO CASO DO AEROPORTO INTERNACIONAL, PORTO DE ÁGUAS PROFUNDAS, FÁBRICA DE CIMENTO, REFINARIA, PROJECTOS HABITACIONAIS E MUITO MAIS” VITAIS PARA ALAVANCAR O DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÓMICO DO TERRITÓRIO QUE VIVE NUMA POBREZA EXTREMA, MESMO SENDO DETENTORA DE VÁRIOS RECURSOS NATURAIS).
OM: Para responder à essa pergunta, vou socorrer-me de alguns acontecimentos históricos que muitos cabindas e angolanos não sabem e que podem ajudar a rebater essa percepção errada e mal montada do regime angolano que, na sua tentativa falhada de escamotear a verdade, vai levantando teses sem bases para continuar com a lavagem cerebral que infringe ao seu povo em quase meio século.
Na Assembleia Geral da ONU, a 12 de Outubro de 1962, cerca de um ano antes da fundação da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), o representante do Madagáscar, Rakotomalala, lançou um apelo que passo a citar “que se tenha em conta a autodeterminação dos povos de Angola, Moçambique, de Cabinda, da Rodésia do sudoeste africano e de Nyassaland”, fim de citação.
A 20 de Novembro de 1962, Luís Ranque Franque, então líder do Movimento de Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC), foi convidado por uma comissão da ONU a pronunciar-se sobre Cabinda. Do mesmo modo, durante a 1049º Sessão do Conselho de Segurança da ONU, a 31 de Julho de 1963, o embaixador do Gana Alex Quaison-Sackey declarou e passo a citar: “O Conselho declarou categoricamente que os territórios ultramarinos de Portugal não são territórios ultramarinos no sentido literal do termo, mas sim colónias portuguesas e que, portanto, deveriam ter a possibilidade de acesso à independência. O grande mérito deste projecto de resolução é ter reconhecido que era necessário atribuir o direito à autodeterminação e independência também aos habitantes de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabinda” fim de citação. Esses dois entre outros tantos acontecimentos relativos à Cabinda, devem bastar para rebater essa falácia mais uma do regime.
MBP-AVC: O POVO DE CABINDA, DEVE OU NÃO PARTICIPAR NAS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS QUE SERÃO REALIZADAS EM ANGOLA POSSIVELMENTE EM 2021?
OM: Eu sempre defendi que os cabindas precisam participar em todas as eleições que ocorram em Angola, é preciso lembrar que dificilmente haverá solução para Cabinda, pelo menos nos moldes que defendemos, enquanto não ocorrerem mudanças políticas em Angola, temos sempre de ir a voto, com uma única particularidade, todo cabinda deveria atribuir o seu voto à oposição, digo à UNITA; se me perguntares se confio na UNITA direi que não, mas de uma coisa tenho a Certeza, com o MPLA no poder, é impossível dialogar e chegar-se a uma solução pacifica e que satisfaça os intentos dos Cabindas, 45 anos de MPLA foram suficientes para nos apercebermos que nunca será com essa gente que alcançaremos os nossos objetivos, com dictadores não se dialoga, dai eu defender a nossa participação nas eleições angolanas para darmos uma ajudinha aos irmãos angolanos a derrubarem o MPLA. Quanto a UNITA ou outro Partido da oposição angolana que seja sério e mereça o nosso voto, nunca saberemos se podemos ou não contar com eles enquanto não forem governo.
MBP-AVC: COMO INTERPRETA À ATITUDE DE PORTUGAL COM RELAÇÃO AO PROBLEMA DE CABINDA?
OM: Os sucessivos governos portugueses desde 1975 têm optado por privilegiar as relações económicas com Angola em detrimento da obrigação sobre si pesa em relação a Cabinda, na verdade, Portugal anda numa posição de subserviência em relação a Angola e não pode fazer nada sob pena de hipotecar as suas parcerias com Angola consideradas cruciais para a já débil economia portuguesa. A economia portuguesa depende de dois pilares, os fundos que recebem de Bruxelas e as relações económico-financeiras com Angola. Reconhecer a sua traição e procurar bater-se por Cabinda, seria o mesmo que romper com Angola o que, a priori, seria fatal para a economia portuguesa; eles (portugueses) bateram-se por Timor-Leste porque não tinham nada a receber da Indonésia, duvido que Timor estivesse independente hoje ou pelo menos fosse contar com o empurrão de Portugal se este último tivesse interesses na Indonésia como tem em Angola, tudo gira à volta de interesses entre países.
MBP-AVC: SERÁ QUE OS CABINDAS AINDA PODEM CONTAR COM A COMUNIDADE INTERNACIONAL PARA O ALCANCE DA SUA AUTODETERMINAÇÃO?
OM: Os cabindas devem, a cima de tudo, contar com eles próprios, precisam antes ultrapassar as suas diferenças, ignorar os seus egos e colocar a causa coletiva por cima dos interesses individuais; a classe intelectual cabindesa deve parar, de uma vez por todas, de ser o maior entrave ao sucesso da nossa luta; disse-me um amigo um dia que Cabinda era o único povo cujos os intelectuais atrapalham o sucesso da luta do seu povo, depois de refletir, cheguei a conclusão que o meu amigo tinha razão, os nossos chamados intelectuais procuram de forma demagógica e populista ganhar protagonismo individual utilizando o nome e a causa do martirizado povo de Cabinda, são incapazes de enterrarem os seus egos, engolirem o seu orgulho, esquecerem que são bawoyo, bayombi ou bakuakongo, engavetarem os seus diplomas, juntando as mãos e trabalharem em conjunto pela causa. O dia que forem capazes de ultrapassar essas barreiras todas, não haverá força alguma no mundo capaz de travar o nosso curso rumo a vitória; a Comunidade internacional anda ao serviço dos mais fortes e não dos injustiçados.
MBP-AVC: QUAL É A MELHOR VIA PARA SE PODER SOLUCIONAR O PROBLEMA DOS REFUGIADOS DE CABINDA, QUER OS QUE SE ENCONTRAM NA EUROPA, NOS RESTO DO MUNDO E PRINCIPALMENTE NOS CONGOS?
OM: É uma questão com uma certa dose de complexidade para responder, primeiro porque não estou por dentro do que se passa com esses irmãos, o meu próprio pai é um deles, penso haver uma necessidade de se apelar às Nações Unidas para o drama dos refugiados Cabindas sobretudo nos dois Congos, continuarmos a denunciar as perseguições e raptos perpetrados pelo regime contra eles sob olhar cúmplice da chamada comunidade internacional. Essa é uma tarefa que nos cabe a nós Cabindas na diáspora, divulgar, denunciar e apelar às organizações humanitárias a estenderem a sua mão aos nossos irmãos refugiados.
MBP-AVC: QUAL É AVALIAÇÃO ACTUAL QUE FAZ DO FÓRUM CABINDÊS PARA O DIÁLOGO (FCD)?
OM: A criação do FCD foi uma jogada muito inteligente, penso que foi a mais inteligente jogada alguma vez feita pelos Cabindas ao longo da nossa luta depois da criação da FLEC, mas a sua acção foi incipiente e hoje tornou-se em mais um instrumento ao serviço do regime, desde a palhaçada que deu lugar ao chamado memorando de entendimento, essa organização deixou de representar de forma vinculativa os interesses dos Cabindas.
MBP-AVC: QUAIS SÃO OS GANHOS QUE CABINDA OBTEVE COM À ASSINATURA DO MEMORANDO DE ENTENDIMENTO (ASSINADO EM 2006) EM ESPECIAL COM O ESTATUTO ESPECIAL?
OM: O mais velho Bento Bembe deve saber melhor e que nos diga quais os ganhos que advieram do chamado estatuto especial para Cabinda, para além dele e mais uns poucos que embarcaram com ele nessa aventura, duvido que outro Cabinda viesse apontar um único ganho do povo com a assinatura do chamado memorando.
MBP-AVC: NO VOSSO ENTENDER É POSSÍVEL HAVER UMA SOLUÇÃO POLÍTICA PARA O PROBLEMA DE CABINDA, COM O GOVERNO ANGOLANO, ATRAVÉS DO DIÁLOGO? TENDO EM CONTA A IGNORÂNCIA DO MESMO PELO ACTUAL PRESIDENTE DE ANGOLA?
OM: Só com governos verdadeiramente democráticos e pluralistas, virados para a paz, segurança e desenvolvimento, pode-se resolver conflitos por via do diálogo, não me parece que o governo do MPLA seja democrático muito menos pluralista, que se importe com os direitos das pessoas, em suma, o MPLA é uma organização que nasce do comunismo e por isso mesmo continua tendo dificuldades em assimilar os princípios e valores democráticos. Quem como eu acompanha a atualidade política de Angola, sabe que a democracia foi uma imposição do malogrado Dr Savimbi e a sua UNITA ao MPLA, foram forçados a engolir um sapo tão grande que, se calhar, anda-lhes atravessado na garganta até hoje. Portanto, em minha opinião, com este governo é impossível encontrar-se uma solução politica para Cabinda.
MBP-AVC: QUAL É AVALIAÇÃO QUE FAZ SOBRE O RECÉM CRIADO ALTO CONSELHO DE CABINDA – ACC? DEPOIS DE TUDO QUE SUCEDEU NO SEU SEIO LOGO APÓS À SUA CRIAÇÃO!
OM: Tenho um conhecimento muito superficial sobre a acção do ACC até agora, não estou ao corrente do que ocorreu logo a seguir a sua criação e por essa razão estou limitado em relação a esta questão, procurarei recolher mais elementos sobre a organização nos próximos tempos mas, do pouco que sei e ouvi, penso que a reunião de Acra foi outra boa iniciativa e todas as forças vivas de Cabinda deveriam fazer parte da mesma, infelizmente e mais uma vez, a maioria optou por não aparecer.
MBP-AVC: COMO É QUE PODEM SER SOLUCIONADAS, AS CRISES INTERNAS NO SEIO DOS MOVIMENTOS INDEPENDENTISTAS QUE REIVINDICAM A RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE CABINDA?
OM: Antes de mais precisamos enquanto Cabindas, reconhecer que temos problemas entre nós que precisam ser ultrapassados, como já frisei a cima, esses mesmos problemas derivam do excesso de egos, do tribalismo, da arrogância e complexo de superioridade intelectual e outros tantos; é imperioso que sejamos todos capazes de colocar todo um conjunto de barreiras que nos colocam uns contra os outros sobre a mesa e, por via de um debate amplo e construtivo, discutirmos de forma frontal e aberta sobre eles, sempre imbuídos do espírito patriótico, no sentido de se encontrar formas de ultrapassa-los podendo assim, colocar a causa de todos nós a cima das individualidades.
MBP-AVC: QUAL É A AVALIAÇÃO QUE PODE FAZER DO DESENVOLVIMENTO DO ATIVISMO (SEJA CÍVICO OU POLÍTICO) AO NÍVEL DE TODA EXTENSÃO DO TERRITÓRIO DE CABINDA?
OM: É animador notar o despertar da consciência patriótica na nossa juventude, só me resta dar força a todos os jovens que nos últimos tempos e de forma destemida têm vindo bater- se por aquilo em que acreditam, pela causa do nosso povo, merecem todo o meu apreço e vénia. São uns verdadeiros heróis e heroínas no verdadeiro sentido.
MBP-AVC: A IGREJA CATÓLICA ROMANA DE CABINDA, NUM PASSADO RECENTE ESTEVE ATRAVÉS DOS SEUS PRINCIPAIS DIRIGENTES ABERTAMENTE ENVOLVIDA NA DEFESA DO DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO DO POVO DE CABINDA! NOS DIAS DE HOJE JÁ NÃO É POSSÍVEL NOTAR-SE ESSE ENVOLVIMENTO? O QUE ESTÁ NA BASE DO NÃO ENVOLVIMENTO DAS NOVAS ENTIDADE DA IGREJA CATÓLICA EM CABINDA?
OM: Filomeno Vieira Dias foi enviado para Cabinda com o simples propósito, afastar os clérigos na altura tidos como incómodos ao regime, reiterando assim o apoio da igreja à nossa luta e com isso, tentar enfraquecer mais a Resistência. Os verdadeiros impulsionadores do apoio da igreja à causa já não estão na atual estrutura diretiva dessa igreja, daí o distanciamento da igreja em relação a resistência.
MBP-AVC: QUAL É A MENSAGEM QUE DEIXA PARA O POVO DE CABINDA, PRINCIPALMENTE AOS MAIS JOVEM PARTES DA LUTA DE LIBERTAÇÃO DO TERRITÓRIO DE CABINDA?
OM: O meu apelo à todos os Cabindas vai no sentido de buscarem mais a verdade sobre a nossa causa, a história da nossa luta, porque só conhecendo a verdade estarão melhor preparados para o exercício do ativismo patriótico, cívico e/ou político em defesa da nossa terra, que se mantenham firmes e fortes, orando sempre a Deus pela nossa causa, cada Cabinda tem a incumbência de transmitir aos filhos o sentimento patriótico, da luta pela nossa autodeterminação, garantindo assim que as gerações vindouras prossigam com a luta até a vitória final porque CABINDA É PÁTRIA IMORTAL, VIVE E VIVERÁ.
MBP-AVC: TENDO EM CONTA A VOSSA ÁREA DO SABER (FORMAÇÃO ACADÉMICA OU PROFISSIONAL)! QUE ESTRATÉGIAS DE CURTO E LONGO PRAZO PODERIAM AJUDAR À ALAVANCAR O DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO DE CABINDA?
R: Com devido respeito pelos leitores e pela equipa do portal, não me vou dar ao trabalho de sugerir o que quer que seja, por achar que até os melhores economistas certamente teriam dificuldades em apontar caminhos ou estratégias que ajudem a alavancar a economia de uma terra condenada a sucumbir pelo regime que a ocupa faz mais de 4 décadas, qualquer sugestão que vise o desenvolvimento para Cabinda, estará sempre voltada ao fracasso, a agenda do regime em Cabinda passa por perpetuar o sofrimento das populações, por nos humilhar, por continuar a explorar os recursos e levar para outras paragens, não faz parte da agenda do regime, desenvolver Cabinda, lembram-se do que disse o atual rei dos marimbondos quando ainda era secretário geral do partido da situação (MPLA) quando instado a comentar sobre a necessidade de Cabinda ter um porto de águas profundas?
CONSIDERAÇÕES FINAIS!
Agradecer a oportunidade para tecer essas breves considerações, fazendo votos que prossigam com determinação esse belíssimo trabalho que têm vindo a desenvolver em prol dos sem voz da nossa terra, bem haja ao portal MBEMBU BUALA PRESS (A Voz de Cabinda), ao serviço da terra de Makongo, Mangoyo ay Maloango, mbote.
Muito Obrigado!
Edição: Magaliza Zola
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