Foi interessante ler a singela, mas profunda reflexão sobre o Problema de Cabinda do Sr. Paulo Lukamba Gato, membro do partido angolano UNITA. Felizmente como ele muitos são os angolanos e não só que reconhecem o direito do povo de Cabinda à autodeterminação, apesar da solução que se quer encontrar para que o Território de Cabinda permaneça como parte integrante de Angola, vis-a-vis a uma redefinição do seu estatuto político, tal como defendeu recentemente Alberto Costa Júnior no seu discurso sobre o 19 aniversário da Paz em Angola.
‘A democracia tem formas de solucionar reivindicações regionais, históricas, ou sociais no quadro do Estado unitário de Angola. É preciso parar com a guerra e dialogar. Não se pode celebrar a paz em Luanda enquanto se faz guerra em Cabinda’. Ou seja para Costa Júnior para Cabinda bastaria uma semi ou Autonomia. Uma vez que à actual Constituição angolana não permite a realização de Referendos.
Contudo, resta saber se o MPLA e o seu governo aceitarão a proposta da UNITA (que tarda a ser publicada oficialmente), a revisão constitucional em curso em Angola nos dará claramente o posicionamento do governo de João Lourenço sobre o Problema de Cabinda.
Mas, mais do que isso é ainda saber o que vai na alma do povo de Cabinda como se vai ouvindo alto e de bom tom. Que esse desejo do povo não seja confundido com a vontade das organizações políticas, pois as experiências de um passado recente relegam nos ao alerta da possibilidade de instrumentalização das eventuais lideranças políticas de Cabinda pelo governo de Angola (MPLA), retirando-os a capacidade de dialogar de igual para igual em nome do povo de Cabinda, como resultado uns acabam se rendendo e, a imposição é aceite como último recurso em troca de acomodações.
ÍNTEGRA DA REFLEXÃO DE PAULO LUKAMBA GATO
Os activistas da causa do povo de Kabinda prevaleceram-se da ocasião das exéquias do Deputado Raul Danda na sua terra natal para criarem um facto político.
Perante uma impressionante moldura humana que se apinhou ao longo do trajecto desde o aeroporto até ao salão multiusos, os activistas, fazendo-se transportar em motorizadas ou mesmo à pé lembravam às entidades idas de Luanda e não só, que estávamos em território de Kabinda e não de Angola.
“Vocês angolanos são maus, pois matam os filhos de Kabinda e os trazem de volta à sua terra, transportados em urnas funerárias”-
“Aqui não é Angola” – gritavam bem alto e sem máscaras os activistas.
Eu acho que de facto, os referidos activistas veiculavam um ponto de vista de uma parte importante da comunidade.
TRATA-SE DE UMA REIVINDICAÇÃO ANTIGA E COM FUNDAMENTAÇÃO POLÍTICA, JURÍDICA, SÓCIO-CULTURAL, ETC.
Falando com alguns jovens, percebi muito melhor os grandes desafios que se colocam às autoridades do país a respeito do problema de Kabinda que devia ser visto de frente e não com um problema tabu.
Uma vez mais o diálogo é aqui chamado para se aprofundar o debate e decantar soluções a contento das partes.
Apenas uma reflexão em forma “d’aide mémoire”.
Paulo Lukamba Gato
Texto Baveka Mayala
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