
A afirmação é de Emmanuel Nzita, Presidente da FLEC FAC, feita no programa “Morning Call” do canal africa news no pretérito 15.06, ontem. Onde foi convidado para analisar os últimos acontecimentos político-militar que se registam no Território de Cabinda, com o escalar da tensão entre as Forças Armadas Cabindesas e as Forças Armadas Angolanas em plena pandemia do coronavírus (Covid-19).
Por Baveka Mayala(*)
Fonte: http://www.avozdecabindambembubuala.com
ANGOLA: ALTA TENSÃO EM CABINDA
Localizado entre os dois Congos o Enclave de Cabinda, continua a ser palco confrontos violentes entre as Forças Armadas Angolanas e as Forças Armadas Cabindesas – FAC da FLEC, Movimento político armado de Cabinda que luta para independência da aquele território que foi anexado à Angola, a ex-colónia portuguesa que alcançou a independência a 11 de Novembro de 1975.
Apesar de assinados vários Acordos de Paz, entre o governo e as facções dos Movimentos Independentistas, os confrontos prosseguem no terreno, com o escalar da tensão desde de 04 de Junho do corrente na floresta do Maiombe, causando a morte a 14 pessoas. Para podermos compreender a realidade dos factos sobre o que se passa actualmente em Cabinda, temos ao telefone o Presidente da Flec Fac, Emmanuel Nzita ( que por sinal é filho do fundador do Movimento, Nzita Henriques Tiago).
Africa news: Todos nós acreditávamos que já estava ultrapassado a situação militar em Cabinda, até ouvirmos recentemente sobre o recrudescer das hostilidades e intensificação das mesmas em plena pandemia (crise sanitária) e, sabe-se que o Secretário geral das Nações Unidas exortou as partes à observarem um cessar-fogo, neste período que o mundo enfrenta uma crise sanitária (a pandemia do coronavírus).
COMO SE EXPLICA À VIOLAÇÃO DO APELO AO CESSAR-FOGO IMEDIATO DA ONU?
Emmanuel Nzita: “Foi com uma grande tristeza que após o apelo do Secretário geral da ONU para um cessar-fogo imediato, tendo em conta a crise sanitária que o mundo enfrenta e, que nós apoiamos unilateralmente, mas que infelizmente o governo angolano violou, violando ainda a integridade territorial dos dois Congos, onde as suas forças armadas mataram dois civis inocentes responsáveis pela área fronteiriça na República do Congo “Brazzaville”. As tropas angolanas lançaram sucessivos ataques as nossas posições, forçando a extensão dos confrontos até aos limites fronteiriços da República Democrática do Congo “RDC”.
Salientar ainda que os confrontos prosseguem sem data prevista para o cessar das hostilidades por culpa das Forças Armadas Angolanas que continuam a sofrer um nível considerável de baixas, mas referenciar também a morte de dois dos nossos soldados e, em retaliação as nossas forças provocaram um alvoroço as tropas angolanas que neste preciso momento que vos falo, estão desnorteadas na Floresta do Maiombe, onde numa das retiradas e em fuga, abandonaram um considerável número do arsenal bélico, deixando ainda para trás, os corpos dos seus soldados mortos”.
Africanews: Esta crise remonta, desde de 1975 quando o povo de Cabinda também manifestou o seu desejo à Autodeterminação, através da FLEC e demais organizações da sociedade civil. Mas hoje Cabinda é décima oitava (18) província de Angola. SERÁ QUE ACREDITA QUE ESSAS REIVINDICAÇÕES PODEM AINDA TER ÊXITOS NA ACTUALIDADE?
Emmanuel Nzita: “Para que a Paz duradoura seja alcançada em Cabinda, tem necessariamente de haver diálogo e, quero aqui também esclarecer que a luta para independência do Território de Cabinda não começou em 1975, mas sim em 1963, com a fundação da FLEC (nascendo assim o ideal) em Ponta Negra “República do Congo Brazzaville”. A união africana já na aquela altura reconheceu Cabinda como sendo o trigésimo nono (39) Estado à descolonizar, questão que também foi levada para às Nações Unidas e União Africana pelos então Ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois Congos na década de 60.
Dizer que somos oportunistas porque estamos a lutar para separar o território, não. Cabinda não é parte integrante de Angola com quem passou somente a ter ligação administrativa em 1956, num formato de colonização conjunta dos dois territórios, tal como sucedeu com o Uganda e o Ruanda protectorados da Alemanha, mas que ficaram sob a administração conjunta da Bélgica”.
Africanews: São vários os acordos de Paz assinados entre o governo e os Movimentos Independentistas, como o Memorando de Entendimento do Namibe, assinado no dia 01 de Agosto de 2006 que concedeu a Cabinda um Estatuto Especial (de acordo as suas especificidades geográficas e culturais).
SERÁ QUE NÃO CONSIDERA ESTES AVANÇOS COMO SENDO UM GRANDE CONTRIBUTO PARA A RESOLUÇÃO DO PROBLEMA?
Emmanuel Nzita: “O Memorando de Entendimento do Namibe foi um total fracasso, partindo do princípio que o governo angolano não o aplicou na íntegra, uma vez que também ficou acordado que a Constituição Angolana seria revista para que as especificidades dos Cabindas ficassem nela plasmada, e, bem como a consagração de uma Autonomia e um Estatuto Económico Especial para o Território de Cabinda. E nada disso foi efectuado até hoje.
A quando das negociações que levaram Angola à Independência, o território de Cabinda não foi associado as mesmas e, nós aguardamos que seja consumada à Autodeterminação de Cabinda, pois contamos com o apoio dos filhos de Cabinda, mesmo os que residem em Luanda e que militam nos partidos políticos angolanos, apoiam a nossa luta”.
Acompanhe o vídeo da entrevista aqui: https://youtu.be/nRKsvoEysEk
Por conseguinte, a FLEC FAC, muito antes do eclodir dos combates violentos, denunciou publicamente a política de terror e repressão do governo angolano contra o povo de Cabinda, durante a vigência do estado de emergência, decretado pelas autoridades angolanas em Março, onde dois incidentes bárbaros e macabros perpetuado pelas FAA, transformaram à luta contra o coronavírus numa oportunidade para o executivo de João Lourenço reprimir silenciosamente o sofredor povo de Cabinda:
– O primeiro teve lugar na região fronteiriça com a RDC em Tando Siala, com à execução de cinco aldeões indefesos de Cabinda pelos efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA) em Março de 2020.
– O segundo ocorreu no mesmo mês, isto no dia 22 de Março, na aldeia de Kissungo Mbemba, junto ao rio Chiluango na região do Necuto, Município do Buco Zau, onde três residentes da aldeia foram encontrados mortos, vítimas da barbaridade habitual das Forças Armadas do regime angolano, num ataque violento.
A guerra no território de Cabinda, é resultante das estratégias musculadas do executivo angolano liderado por João Lourenço que tem estado a ignorar os sucessivos apelos ao diálogo, dando primazia a violência como sendo a única via para se resolver o problema. E o mais caricato é que este mesmo executivo admitiu e reconheceu recentemente por via oficial que têm ocorrido “escaramuças e emboscadas militares em Cabinda, como resultado da campanha contínua da FLEC”, pela independência do território. Não obstante à isso insiste em ignorar os apelos para à construção da Paz efectiva e duradoura no Território de Cabinda, optando pela continuidade da guerra.
O escalar da “tensão militar” entre os efectivos das FAC e das FAA, no território de Cabinda, coloca em risco à Paz e a Segurança Internacionais na região Central de África, que pode muito bem ser mitigado com a intervenção do secretário-geral das Nações Unidas, Sr. António Guterres, apelando as partes ao cessar-fogo imediato para à resolução do diferendo e sobretudo à exortar o Presidente angolano João Lourenço a abandonar a sua política de violência, repressão e opressão contra o povo de Cabinda e bem como contra os povos da República do Congo “Brazzaville” e da República Democrática do Congo “RDC”, vítimas das barbáries das FAA em solidariedade aos Cabindas.
Contudo, a guerra não pode ser transformada como sendo o último recurso para à paz em Cabinda, pois já é chegada a hora para que o executivo angolano responda aos sucessivos apelos ao diálogo lançados pelos Movimentos que lutam pelo restabelecimento da soberania do Território de Cabinda.
BASTA DE MORTE, DOR E SOFRIMENTO PARA TODOS!
Com estes acontecimentos prevemos um cenário sombrio para Cabinda nos próximos dias, onde se poderá assistir o aumento da opressão e repressão por parte das autoridades angolanas contra os independentistas Cabindeses tendo em conta que uma delegação que integra membros dos órgãos de defesa e segurança angolanos, trabalhou em Cabinda, de 07 a 15 de Junho último ,e, auguramos que isso não aconteça, uma vez que o recém reconhecimento da ONU da luta dos Cabinda neste Século XXI é um marco importante para a resolução pacífica do diferendo.
(*) “Adaptação do inglês para à língua de Camões”, Director Adjunto da MBEMBU BUALA PRESS (A VOZ DE CABINDA).
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