Como vem sendo costume, nas efemérides ligadas à individualidades clericais bindas, trazemos à reflexão algum aspecto seus. Ao se comemorar mais uma data do seu passamento físico, ocorrido no dia 13 de Agosto de 2005, decidimos explorar, o lado político, enquanto membro da pólis, na perspectiva aristotélica, do sacerdote, José Maria Faustino Builu ou simplesmente Senhor Padre Faustino Builu.
Antes lembrar que o mesmo nasceu em 1927; foi ordenado padre no mesmo dia e lugar que o Paulino Fernandes Madeca em 1958; foi um dos cinco subscritores do profético e intemporal documento “não podemos deixar de falar” em 10 de Janeiro de 1975; ele também foi um dos três, ao lado dos Senhores Padres, Pitra e Nionje Seda, que acompanhou o nosso Povo e a nossa Gente no exílio, quando, em Outubro a Dezembro de 1975, as FAC (Forças Armadas Cabindesas), braço armado da FLEC (Frente de Libertação do Estado de Cabinda) fora derrotada no campo militar pelos angolanos das fapla, então braço armado do mpla, apoiada logística e militarmente pelos seus aliados comunistas, internacionalistas e terroristas cubanos.
Com a ocupação militar efectiva do nosso solo pátrio pelos angolanos e seus aliados, o nosso povo parte para o exílio afim de escapar as barbaridades que as faplas e seus aliados cubanos perpetravam contra a nossa gente indefesa devido a disseminação da ideologia da FLECOFOBIA por parte dos invasores angolanos/cubanos, tendo a sua maioria se estacionado na província de boma, ex-zaire, actual RDC, em vários campos de refugiados como os de: nlundu-matende, kimbianga e tshela. Neste último, por iniciativa do Sr. Pe. Builu, erigiu-se o Centro Pastoral dos Padres de Cabinda no exílio, tendo funcionado como Seminário Menor.
O “Sacerdos” Builu foi até à data da sua morte, o Decano do clero incardinado na Diocese de Cabinda, era tido com o membro ultra-nacionalista no seio do clero binda, foi o mentor do Senhor Padre Congo nos Campos Pastorais, no exílio.
Aquando do seu regresso do último exílio, nos finais da década de 90, do século passado, fixou residência na Casa Paroquial da Missão Imaculada Conceição, dirigida pelo seu pupilo Padre Congo, onde o conhecemos e cultivou connosco uma relação de pai e filho, só quebrado com a sua morte.
Com a morte prematura do padre António Ndembe Ngoma, D. Paulino Madeca nomeio-o a Reitor do Seminário Propedêutico (equivalência do médio).
Com a sua influência como a do Sr. Pe. Congo, nós ingressamos ao Seminário Propedêutico, onde fomos eleito Decano e nomeado Responsável da Casa do Reitor. Nessa qualidade, pudemos privar com ele como ninguém da nossa promoção, criando algum ciúme aos colegas pelo tratamento diferencial que nos reservava, porque dizia se ter identificado connosco desde os tempos da sua breve estadia na Casa Paroquial da Imaculada Conceição.
Foi assim que, numa das tantas conversas longas, em sua sala, nos confidenciara os dois factos que, segundo o mesmo, estiveram na base da “ruptura” com o mais velho, Nzita Tiago: primeiro foi o facto de ter sido sondado, devido o seu carácter forte, radical e pragmático para substituir o então líder na presidência da FLEC, com a condição de “abandonar” o sacerdócio; segundo era o facto do Mais Velho Nzita, reiteradas vezes, ter-se dirigido aos Campos Pastorais, com homens fortemente armados, para recrutar Seminaristas que ingressavam nas fileiras militares da FLEC. Foi numa dessas investidas que o Sr. Pe. Congo foi “rusgado”.
Tendo combatido com armas na mão, contra a ocupação ilegítima do nosso Solo Pátrio Binda, Cabinda, pelos angolanos e seus aliados, esse facto é que atrasou a sua ordenação sacerdotal que só ocorreu em 1984.
Enquanto Reitor, no Seminário Propedêutico de Cabinda, o Sr. Pe. Builu tinha determinado, com o placet, aval do Senhor Bispo Madeca, que as datas celebrativas de Angola, tais como: o 4 de Fevereiro, o 8 de Março, o 17 de Setembro, o 11 de Novembro passassem a ser datas normais com aulas e funcionamento normal do Seminário. E assim eram….Porém, datas como o 1 de Fevereiro (assinatura do Tratado do Simbulambuku), o 8 de Novembro (início da chamada guerra clássica) perpetuado no Hino Cabindês, eram autênticos feriados para nós, no Seminário, no tempo da nossa Antiga Igreja Católica Binda. É nesse contexto, que todos nós que passamos em suas mãos fomos educados: amar o nosso solo pátrio, Cabinda, e a nossa Igreja que era a presença de Deus no nosso seio.
Com a nossa ida ao Seminário Maior para frequência do Curso Superior de Filosofia, fomos os únicos que o escolhemos como Assistente Espiritual, uma vez que, a equipa formadora dirigida pelo Senhor Padre Raul Tati e o padre Carlos Gime tinham facultado a cada Seminarista Maior a escolha do seu Assistente, escolha que deixou nossos colegas de formação estupefactos, porque o Senhor Padre Builu não era de trato fácil, quase não ria!
Mas nós nos identificávamos com ele, sentíamo-nos bem e confortável com ele. Era um segundo pai e mentor para nós. Com ele, ouvimos e aprendemos factos imensuráveis sobre Cabinda e da nossa Igreja Católica local.
Texto de José Da Costa