A NOSSA DETENÇÃO FOI ASSIM POR LEOTON MABIALA

No dia 12 de Agosto, quinta feira última, fomos convocados para participar num encontro no Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional. Objetivo era, falarmos sobre a marcha pacífica que seria realizada hoje, dia 14, do Cemitério Santana ao largo do 1° de Maio, aqui em Luanda. Marcha esta que serviria para exigir do governo de Angola o diálogo para a paz em Cabinda.

Estivemos neste encontro, o Laurindo Mande, presidente do MEA (Movimento dos estudantes de Angola), Makosu Sita e eu, LeoTon Mabiala . Na sala estavam todos chefes de secção do comando provincial da PN do município de Luanda, nomeadamente, chefe do SIC, SINSE, Ordem Pública, Viação e trânsito, etc, e um representante do Comandante provincial da PN em Luanda, foi este último quem dirigiu a reunião.

A reunião começou logo com as perguntas relacionadas com a marcha, quantos activistas poderiam sair à rua, que horas teria o início e fim. Nós fomos respondendo estas perguntas e dissemos que não era possível estipular exatamente o número de activistas que iriam participar na marcha e explicamos o porquê.

De seguida, nos foi lida uma nota vinda do Governo da Província de Luanda, assinada pela governadora de Luanda. Na nota, a governadora orientou à PN a não autorização da marcha porque, segundo a governadora, não respeitava o decreto presidencial sobre o estado de calamidade imposta pelo Covid-19. Que não permitia agrupamentos de mais de 10 pessoas na via pública e também a governadora alegou que a marcha marcada como início às 11:00 não respeitava os trâmites legais, por isso, a marcha deveria ser proibida. Que as manifestações públicas, aos finais de semana devem ter sempre o início às 13:00. Isto foi o suficiente para a governadora de Luanda PROIBIR a manifestação.

Quando nos foi dada a palavra, dissemos que a proibição da governadora viola o artigo 47 da CRA, por isso, com ou sem autorização da governadora a marcha deveria sair. Os agentes da polícia presente disseram-nos que tínhamos razão mas eles deveriam fazer cumprir as ordens vindas da governadora de impedir a realização da marcha a favor do diálogo para a paz para Cabinda. Que a polícia só está para cumprir ordens.

Depois de encerrada a reunião, o representante do comandante provincial da PN em Luanda pediu-nos que esperassemos 15 min para assinarmos a acta da reunião, nós, os activistas presente na reunião decidimos unanimemente não assinarmos qualquer documento e pedimos que se retirássemos no local da reunião, a polícia aceitou, saímos e fomos para as nossas casas.

DIA DA MARCHA E A NOSSA DETENÇÃO

Já no dia marcado para a marcha, depois de acertarmos todo o plano estratégico, quando eram 10h e tal, os manos Makosso Sita, Gildo Das Ruas Victor e o mano Laurindo Mande já estavam incomunicáveis, os seus números estavam todos desligados.

Logo, me dirigi no local da concentração, encontro-me com os activistas Simon Clever e um outro activista, minutos depois aparece a mais jovem activista do grupo, a Mirena Neydila, que disse-nos que viu 2 ou 3 activistas que acabavam ser detidos pela polícia mas não conseguiu reconhecer quem foram esses activistas. Nós deduzimos que fossem os activistas Makosso Sita, Laurindo Mande e Gildo Victor.

Mais tarde, apareceram as activistas Rosa Conde e a Yared Bumba. Ficamos a partilhar algumas informações e os planos a seguir porque a polícia estava inundada no local onde escolhemos para dar o início da marcha, estavam desde a polícia canina a polícia de cavalaria e da ordem pública. Todos eles com o objetivo de impedir a marcha.

Decidimos então que tínhamos que nos dirigir até a um chefe da missão da polícia para procurarmos saber do paradeiro dos 3 activistas que estavam incomunicáveis. Posto no local onde a polícia estava, nos dirigimos até ao intendente Lázaro(acreditamos que este seja o nome), chefe das operações da PN em Luanda, onde ele nos jurou categoricamente que não havia nenhum activista detido. Nós dissemos-lo que havíam 3 activistas que estavam incomunicáveis. O intendente Lázaro disse-nos que poderíamos ir até 10ª esquadra para reportamos o desaparecimento dos 3 activistas e que poderíamos ser acompanhados pelos agentes da polícia no local.

Não concordamos com a resposta do chefe das operações da PN em Luanda, logo fomos convidados a abandonar o local porque a polícia afirmou que aquele espaço defronte ao cemitério do Santana estava sendo ocupado pela PN e deveríamos avançar até a segunda pedonal da paragem dos congolenses. Nós aceitamos, fomos andando, 30m depois paramos. Dissemos que não poderíamos avançar mais sem que soubemos do paradeiro dos 3 activistas que estavam incomunicáveis, foi daí que em nossa direção vinham um aparato de polícias (por volta de 10 a 12), a nos mandar avançar até às segunda pedonal. Fomos indo, minutos depois, aparecem 2 carros dos serviços do SIC que transportam prisioneiros e mais carros da patrulha, desceram destes carros polícias bem armados que nos convidaram a subir no carro. Sem qualquer resistência, aceitamos subir nas viaturas da polícia e fomos levados a esquadra da polícia de nome Patrício Lumumba, cita no Bairro Popular, distrito das Ingombotas, município de Luanda. Fomos detidos por volta das 12:00.

Posto lá na esquadra, encontramos os outros activistas que até então não sábias do seu paradeiro, são eles, Laurindo Mande, Gildo Victor, Makosso Sita, Firmino Cutaia e Demente. Segundo as explicações que nos deram, eles foram detidos e espancados, por volta das 10:00. Ficamos todos lá até as horas 16h.

Durante a nossa estadia na esquadra, apareceram os agentes do SIC onde fizeram o registro dos nossos nomes, idade e números de telefones. Quando saíram, aparecem o pessoal da polícia normal e foram a cada um de nós nos entregando os nossos pertences e consequentemente a nossa soltura. Infelizmente, o telefone do Makosso Sita não estava aparecendo, e ele se recusou sair da esquadra sem que devolvessem o seu telefone. Foi daí que o Makosso Sita ficou na esquadra com a Rosa Conde e o Gildo Victor. Não entendi a razão destes dois últimos não terem saído quando a maioria de nós já tinha saído da esquadra. Ficamos a espera deles lá fora e minutos depois saíram os 3 últimos. De seguida decidimos ir todos para casa.

AGRADECIMENTOS:

Queremos agradecer em primeiro lugar o nosso Deus todo poderoso, que cuidou das nossas vidas e da nossa integridade física, à todos activistas que estavam presentes nessa marcha, os que foram detidos e os que não poderiam estar detidos para manter os demais informados. A sociedade civil de Cabinda de Angola que estavam sempre preocupados conosco.

O nosso muito obrigado!

Luanda, 14 de Agosto de 2021.

LeoTon Mabiala

ANEXO:

LISTA DOS DETIDOS:

1. Yared Bumba.

2. Gildo Das Ruas.

3. Makosu Sita.

4. Rosa Conde.

5. Leoton Mabiala.

6. Laurindo Mande.

7. Milena Neydila.

8. Firmino Cutaia.

9. Domingos Luz.

10. De Mente.

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