CARTA ABERTA DE JOSÉ A. CARVALHO À JOÃO LOURENÇO

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE ANGOLA, GENERAL JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO.


Senhor Presidente!


Perdoa a minha ousadia e atrevimento, pois não me é digno, como ser tão ínfimo e miserável que sou, dirigir-me à uma figura tão sublime, tão importante e com tantos poderes como é o caso do senhor presidente.

VOC


Sou um lídimo filho das terras de Mua’Kongo, Mua’Ngoio e Mua’Loango comprometido com a verdade e com a justiça. Por isso sinto-me obrigado de propagar a verdade e a justiça para todos seres, seja quais forem, a sua grandeza, o seu status, o seu poder económico ou político, a sua raça ou a sua cor, a sua filiação partidária ou a sua crença.

Atento à vossa governação cheio de atropelos e de incertezas, achei necessário juntar a minha voz, ou seja, a minha humilde opinião à tantas outras que lhe são dirigidas com o propósito de se encontrar soluções para voltar, este grande comboio de que o senhor é o maquinista, aos carris, isto porque sei que se o vosso país Angola estiver bem, Cabinda também estará, porque Cabinda é refém da má governação de Angola.

Quando começou o vosso consulado, eu publiquei na minha página do Facebook de que o senhor era um enviado de Deus para salvar Angola. Infelizmente, ao passar do tempo, como todos, ou senão a maioria dos cidadãos do vosso país, as minhas expectativas foram-se minguando. Mas, afinal, o quê aconteceu? O senhor presidente criou-nos, intencionalmente, falsas expectativas?


Acho que não, o senhor presidente tem boas intenções de implementar reformas no vosso país mas, como não pode fazer tudo sozinho, os seus colaboradores, como não comungam os mesmos propósitos, acabam comprometendo a vossa boa intenção, isto porque a corrupção enraizou-se de tal maneira no vosso partido que até tornou-se num cancro para Angola.

Deus queira que não seja um cancro maligno. O senhor está cercado por um covil de malfeitores. Todas políticas que o senhor traçar para uma boa governação serão sempre sabotadas pelos seus colaboradores e, muitas vezes, eles, como expert’s na matéria das áreas que governam, induzem-no no erro, fazem más propostas para o senhor aprovar e continuar sair sempre mal na fotografia, enquanto eles escarnecem do senhor e vão, cada vez mais, roubando debaixo do vosso nariz.

Quanto ao combate à corrupção, será que a SIC e a PGR estão cumprindo com as vossas orientações? Quem garante ao senhor presidente que ainda não foram criadas redes, nestas instituições, para extorquir dinheiro aos implicados?

Abre o olho, senhor presidente. Se possível, deveria decretar uma amnistia à todos crimes cometidos no consulado anterior e, a partir de agora, começar com uma nova era, com a ajuda da secreta, ir pegando todo aquele que prevaricar e metê-lo na cadeia. Sobre o aumento do custo de vida, está claro que tem a ver com a escassez de divisas no mercado cambial. Aí também há gato, senhor presidente.

Quem alimenta o mercado informal com divisas? Existe alguma entidade particular ou colectiva que importa divisas para além do BNA?

Sabe-se que os pagamentos aos trabalhadores das empresas petrolíferas são feitos em moeda nacional. Não haverá um conluio entre o BNA e os bancos comerciais? Porquê não se liberalize a compra de divisas?

Porquê um cidadão que tiver alguma necessidade de adquirir divisas não pode adquiri-los numa instituição bancária e não num cambista (kinguiila)?


Alguém poderia dizer que o BNA não tem reservas suficientes para satisfazer a demanda. Para tal, procurem encontrar soluções. Fala-se de que o banco central dos EUA impôs condições para voltar a enviar divisas para Angola. Que se cumpram com estas condições, o povo não pode continuar a viver miseravelmente.


Enquanto o senhor presidente está no palácio, não tem noção do sacrifício que um cidadão de baixa renda empreende para, pelo menos, colocar uma refeição à disposição dos filhos. E essa refeição não é igual à dos tempos idos, muitos comem apenas arroz pintado, ou seja, arroz com massa tomate. No pior dos casos arroz branco mesmo.

Será que só vos importa o cadeirão e que o povo se lixe? Acho que não, o senhor precisa descer e ver a realidade que o último angolano vive. E, como humano, pode ser que se preocupe e ajude mesmo o seu povo a reconquistar a sua dignidade. Também é urgente reverter a actual posição da balança de pagamentos. Deve haver mais exportações, em detrimento das importações.

O país deve produzir mais para garantir a auto-suficiência alimentar e criar as pequenas indústrias de transformação. Angola tem terras férteis e recursos hídricos que possam favorecer a agricultura. Já existem algumas fazendas de estrangeiros a produzirem em grande escala. Será que é uma boa política?

É verdade que vai diminuir o desemprego assim como aumentar a produção de alimentos para o país. Mas, acontece que os rendimentos destas empresas terão que ser expatriados e não em kwanzas, mas sim em moeda estrangeira. Isto continuará a provocar escassez de divisas e o encarecimento dos custos de produção. Como consequência, o produto interno será sempre mais caro que o importado, logo não proporcionará um desenvolvimento sustentável para o país.


Então, por onde andam os fazendeiros nacionais que o MPLA criou? Afinal fizeram fazendas apenas para esconder contentores de dinheiro? Porquê não aplicam este dinheiro na produção?


Talvez porque temem represálias ou confisco, logo, senhor presidente, é mais uma razão para decretar a amnistia de que atrás me referi. Está provado que a caça às bruxas não vai resolver os problemas candentes do vosso país.

Não é que estou à favor dos ditos marimbondos, mas é que o senhor presidente não vai conseguir recuperar tudo ou mesmo nada do que foi roubado. Então como solução é deixar que esta gente aplique, livremente, a sua riqueza na produção e isso vai alavancar a economia do país. O que deve ser feito é não permitir mais que ninguém domicilie a sua riqueza no exterior.


Quanto á política externa. Senhor presidente, na minha língua materna há um provérbio que diz: “mbamba wali zi voluango’ko” – ninguém consegue puxar dois juncos ao mesmo tempo. Também há uma passagem bíblica que diz: “ninguém pode servir a dois senhores, acabará por amar um e desprezar o outro. O senhor presidente faz parcerias estratégicas com a China, com a Rússia e depois com os EUA.


O senhor bem sabe que a guerra fria entre a Rússia e os EUA não acabou. De preferência inclinar-se apenas de um lado, caso contrário Angola nunca terá um parceiro estratégico. Não sou perito em política internacional, mas baseando-me em exemplos concretos, tenho certeza que estes aliados vão é mais prejudicar em vez de ajudar. Aliás, apenas puxarão brasa à sua sardinha enquanto o vosso país continuará à deriva.


E, finalmente, sobre Cabinda, senhor presidente! Não sei se o senhor tem conhecimento de tudo que se passa nesta terra abandonada, aliás com gente abandonada, porque a vossa presença aqui é apenas para sugar os recursos que aqui temos.

Afinal, qual é a política de Angola para com Cabinda?


Não se faz nada para se mudar o quadro sombrio em que está mergulhado este território. As pedras que são lançadas, como bem disse um membro do vosso partido, não se sabe para onde têm ido parar, se para o mar ou suspensas no espaço. Faz-se projectos que nunca saem do papel ou começa-se a implementação, sobretudo quando precisam do nosso voto, para depois pararem.


É o caso dos projectos do Pólo Industrial do Fútila, do Porto de Águas profundas do Caio, do Quebra Mar e Terminal Marítimo, do Aeroporto internacional, da Centralidade do Yabi, do cultivo do arroz no vale do Yabi e tantos outros. Em todos estes projectos, se a memória não me atraiçoe, foram lançadas pedras e nunca foram concretizados.


É muita brincadeira, senhor presidente! Afinal, o quê se passa? Fala-se, em certos círculos, que esta prática é propositada, porque sabem que Cabinda um dia pode desanexar-se do vosso pais, então não vos convém desenvolver esta terra. Se for o caso, porquê não devolvam o território aos seus donos?


Angola tem recursos naturais suficientes para se desenvolver sem o petróleo de Cabinda. E Angola tornou-se refém de algumas instituições e individualidades internacionais devido à ocupação de Cabinda, expondo-se à chantagens destes e expendendo vários recursos, que poderiam servir para desenvolver o vosso país, para abafar a pressão destas instituições e indivíduos.


Para além do abandono económico, as populações de Cabinda, sobretudo os que se identificam com a causa do seu povo, não têm valor. Em certos casos, uma galinha tem mais valor do que um cabinda, pois há criadores de gado que receiam matar um animal da sua criação, mas nós somos mortos sem piedade e sem dó, logo na primeira oportunidade.


Actualmente tem alguns jovens presos pelo simples facto de programarem uma manifestação pacífica permitida na vossa constituição.


Será que para vós é um prazer matar ou prender um Cabinda? Nos tornamos objectos para vossa diversão?


Muito gostaria que o senhor presidente fosse o arquitecto da reconciliação dos povos de Angola e de Cabinda.


Se possível, senhor presidente, dispa-se de todo orgulho, de toda prepotência e de todo mau conselho e reveja o vosso posicionamento para com a minha terra.


Angola só ficará a ganhar se libertar Cabinda e este não é um favor que nos vai fazer. Tenho a certeza que, com a elaboração e publicação desta carta, acabo de assinar o meu atestado de óbito.
Contudo, eu tenho um Deus a Quem sirvo e que sei que me vai proteger.

Também estou consciente de que o meu Deus pode também permitir que o pior me aconteça, como permitiu as mortes de Estévão por apedrejamento, de Paulo e João por decapitação, de Pedro por crucificação e de tantos outros que O serviram.

Contudo, morrer ou viver, faço isto com muito prazer e com sentimento do dever cumprido, porque sei que estou lançando sementes que não irão, todas, morrer na terra e que, um dia, acabarão por germinar.


Aliás, nós os Cabinda a vida pouco nos importa, a gente já anda morto, só falta apodrecer.


Para terminar, aceita senhor presidente os meus votos de Festas felizes e um ano Novo cheio de prosperidade e, quando estiver a festejar, pense no último angolano porque afinal são todos filhos seus.

Muito obrigado pela atenção,


José António de Carvalho

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